Bósnia-Herzegovina: a singularidade da Europa, parte II  

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(...continuação)

Depois de 4 séculos sob os Otomanos, o domínio Austro-Húngaro na Bósnia iniciado em 1878 foi relativamente curto, apenas 30 anos; mas as conseqüências do que ocorreu nesse período ecoam pelo planeta até hoje, pois foi em Sarajevo que surgiu o estopim da primeira grande guerra, que deu origem à segunda, ao redesenhamento do mapa europeu e de suas colônias, às imigrações européias ao Novo Mundo, à guerra fria, ao estado de Israel, ao começo e ao final sangrento da Iugoslávia, ... .

Os Bosniaks, como são chamados os Bósnios muçulmanos, aceitaram sem muita objeção o domínio dos Habsburgos, que prometiam transformar o país em uma colônia-modelo, mantendo e incentivando seu caráter multiculturalista. No entanto, um crescente nacionalismo Sul-Eslávico tanto de Bósnio-Sérvios (ortodoxos) como de Bósnio-Croatas (católicos) livres enfim do domínio Otomano, encontrava eco nas comunidades vizinhas na Sérvia e na Croácia; a idéia destes era formar um Estado unificado dos Eslavos do Sul, liderados pela Sérvia. A anexação formal da Bósnia pelos Habsburgos, dada de fato em 1908 pelo imperador Franz Joseph e inicialmente não aceita pela Rússia, foi o fator decisivo que levou um jovem nacionalista Bósnio-Sérvio de 19 anos, Gavrilo Princip, a assassinar o herdeiro ao trono dos Habsburgos, Arquiduque Franz Ferdinand, e sua esposa Sofia, quando estes visitavam Sarajevo em 28/06/1914. Menos de dois meses mais tarde, os Austro-Húngaros declararam guerra aos Sérvios, fato que precipitou várias outras nações a entrarem no conflito, defendendo seus lados e reinvidicando suas próprias razões em atacarem outros países, até que toda Europa e, por extensão, suas colônias na África e na Ásia se envolvessem no que veio a se tornar a Primeira Grande Guerra: os poderes Centrais (impérios Alemão, Austro-Húngaro e Otomano, Bulgária, ...) contra os Aliados (impérios Britânico e Russo, França, Itália, Japão, Sérvia, EUA, ...).

Com a derrota dos poderes Centrais e o fim dos Otomanos e dos Habsburgos (o império Russo também se extingüiu no transcorrer da guerra, em 1917, pela Revolução Russa), a Bósnia foi anexada à Sérvia no recém-formado Reino Servo-Croata-Esloveno em 1918, onde não possuía status de nação; Montenegro fora anexado à Sérvia, Kosovo e Macedônia já eram Sérvios à época. O Reino Iugoslavo, formado em 1929, mantinha as tensões territoriais entre Sérvios (ávidos em formar sua Grande Sérvia) e Croatas (mais propensos a uma federação unificada mas descentralizada) e negligenciava quaisquer traços de uma nação Bósnia assim como de uma maioria Muçulmana. Quando a situação já rumava a uma partilha da Bósnia entre Ortodoxos e Católicos, as querelas internas tiveram de ser postas de lado por causa da ameaça Nazista; Hitler veio a invadir a Iugoslávia em abril de 1941.

Sob a Alemanha Nazista e o Eixo, nova partilha da Iugoslávia é feita: a Croácia foi entregue a Itália Fascista, tornando-se um estado independente (partido Ustase) mas fantoche do Eixo, ganhando o controle da Bósnia; em troca, os croatas cederam sua costa Dálmata à Itália. No curso da segunda grande guerra, com o Rei Iugoslavo (Peter II, um Sérvio) no exílio, emergem os Chetniks (guerrilheiros fiéis ao rei), e cresce a figura de Tito (um Croata-Esloveno) e de seu partido Comunista como principal opositor aos Nazistas. Tito se torna merecedor do suporte Aliado e, com a expulsão dos Nazistas em 1945, consegue também dissolver a Monarquia e cria a República Iugoslava, tornando-se seu Primeiro-Ministro. Durante a segunda guerra, os Chetniks e a Ustase, que perseguiam membros uns dos outros além de Bosniaks e judeus, chegaram a unir forças contra os comunistas, os quais passaram a receber suporte do exército Vermelho Soviético.

(continua...)

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