Israel, Palestina, Jerusalém, breve intro  

Posted by carlos in ,

Bom, antes de tudo, vou me arriscar a um resumo da história, até para se entender melhor a origem dos principais locais sagrados de Jerusalém e da inimizade mútua de boa parte dos Árabes e Judeus.

Jerusalém se tornou capital do reino unificado de Israel por volta de 1000 AC graças a conquista da cidade pelo rei Davi. Seu filho, Salomão, construiu o primeiro Templo no Monte do Templo em cerca de 970 AC. Em 586 AC os Babilônios de Nabucodonosor a conquistaram e destruíram o Templo. Logo veio a conquista Persa, Ciro e depois Dario, que permitiram a construção do segundo Templo no Monte do Templo, terminado em 516 AC. Em seguida veio a conquista do Greco-Macedônio Alexandre o Grande no século IV AC, e pelo século II AC os reinos sucessores de Alexandre, o Ptolomaico e o Selêucida, disputavam a cidade e ambos foram derrotados em 168 AC pelo reino Hasmoneano, dos Israelenses Macabeus, o que veio a barrar a ascensão do Helenismo em Israel e a reforçar o Judaísmo em Jerusalém.

Veio então a era Romana ao redor do ano 6, quando o rei Judeu Herodes foi instaladao em Jerusalém; ele aumentou o segundo Templo e os muros e torres de defesa da cidade. Diversas foram as revoltas internas contra os Romanos até que eles viessem a destruir o segundo Templo no ano 70. Em 135 Hadrian passou a acelerar a Romanização da cidade e a proibir os Judeus de a adentrarem. No século IV, quando o Cristianismo já tomara conta de Roma, o imperador Constantino I contruiu a igreja do Santo Sepulcro no suposto lugar da crucificação e da tumba do suposto Jesus, além de ter lançado a semente da divisão do império Romano ao mudar sua capital para Bizâncio em 395 (tornada Constantinopla após sua morte, hoje Istambul). O domínio do império Romano, e do Bizantino após a divisão de Roma, durou até o século VII, período em que os Judeus continuaram banidos da cidade.

Em seguida veio a conquista Árabe em 638 pelo primeiro Califado Árabe, os Rashidun, que permitiram que os Judeus retornassem à cidade e que os Cristãos mantivessem seus locais sagrados. Mas foi só em 692, já no segundo Califado, o dos Umayyad, que o Domo da Rocha e a mesquita de Al-Aqsa (essa terminada em 705) foram ambos construídos no monte do Templo, sobre as ruínas do segundo Templo Judeu destruído pelos Romanos e do qual restou apenas o Muro das Lamentações. Em 1099 os Cruzados tomaram a cidade com a Primeira Cruzada, aniquilaram Judeus e Muçulmanos, e estabeleceram o Reino Latino de Jerusalém que se estendeu por parte do Oriente Médio. Foi só em 1187 que Saladin, da curta dinastia Sunita de origem Curda dos Ayyubid, reconquistou a cidade para os Árabes permitindo assim o retorno de Judeus e Muçulmanos. Em 1250 os Mamelucos conquistaram a cidade e a dominaram até 1517, quando o império Otomano enfim a anexou em meio à sua gigantesca expansão, após terem conquistado Constantinopla em 1453 pondo fim ao império Bizantino.

Os quatro séculos Otomanos terminaram em 1917 quando eles saíram derrotados da primeira guerra mundial. Nesse período os Turcos modernizaram a cidade antiga e reconstruíram sua imponente muralha (principalmente Suleiman o Magnífico), e Jerusalém começou a crescer em bairros para além da cidade murada. Com a partilha pós-guerra do Oriente Médio entre França e Inglaterra, o sul (Palestina, Transjordânia) entrou no mandato Inglês que se estenderia até 1947; durante esse mandato a população de Jerusalém triplicou de cerca de 50 para 150 mil moradores, novos bairros Judeus surgiram e a Universidade Hebraica foi fundada no Monte Scopus.

O plano inicial de partilha da ONU que alocara uma área para cada futuro estado, de Israel e da Palestina, era manter um regime internacional na cidade por uma década, depois do qual um plebiscito decidiria o futuro da Palestina Inglesa e de Jerusalém. Porém, em 1948 explodiu a guerra que teria como resultado o nascimento do estado de Israel proclamado por Ben Gurion com a capital em Jerusalém Ocidental, selando o sucesso do movimento Sionista mundial que se organizara 50 anos antes. Israel tomou sua parte do tratado da ONU; por outro lado a também recém-independente Jordânia do rei Abdullah I anexou o restante da Palestina, West Bank e Jerusalém Oriental, incluindo a antiga cidade murada que voltou a ser proibida para os Judeus.

Para os Palestinos a catástrofe foi total; além de não conseguirem seu Estado, começava o êxodo Palestino em que cerca de 700 mil pessoas se tornaram refugiadas, número que só veio a aumentar depois da guerra de 1967 quando Israel conquistou o que a Jordânia tinha anexado em 1948, cerca de 300 mil novos refugiados. Ao mesmo tempo Israel implementou e mantém massiva imigração para trazer novos moradores à Jerusalém e à outras regiões em West Bank, às custas de terras Palestinas e de Árabes expulsos, para assim aumentar a densidade demográfica Judia e assegurar mais território, enquanto os Palestinos refugiados são proibidos de retornar às suas terras.

Acho melhor parar por aqui. Em algum post eu havia escrito que viria a Israel sem pré-concepções. Mas é impossível ver os dois lados da moeda in-loco sem sair com tais pré-concepções redobradas; talvez se fosse cego, quem sabe. Deixarei a parte mais ácida para os posts da Palestina; no próximo, um pouco de turismo enfim.

This entry was posted on sábado, agosto 14, 2010 at 10:37 PM and is filed under , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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