Jerusalém, capital de dois mundos  

Posted by carlos in ,

Depois da parte histórica do post anterior, e deixando a parte ácida para os posts da Palestina, vamos enfim conhecer Jerusalém!

Vindo de Amã os ônibus só vão até a fronteira pois os trâmites para se entrar em Israel são sempre demorados e variam de pessoa a pessoa. No meu caso, por ter estampa Síria e Libanesa no passaporte, pior ainda; fiquei lá um tempão, o lugar enchia e esvaziava, e nada; depois de umas quatro horas de espera e algumas perguntas, me liberaram. Não se paga para entrar no país, mas paga-se bem caro para sair. Passados os trâmites pega-se outro ônibus até Jerusalém, onde fiquei neste hostel em que não ficaria de novo, à saída do Portão Damasco próximo da rodoviária Islâmica. O trajeto já é por si só bem jóia, passando ao largo do mar Morto e das pitorescas formações montanhosas daquela área semi-desértica.

Jerusalém está encravada na divisa entre West Bank na Cisjordânia ocupada e Israel. A cidade seria a maior de Israel se se incluísse seu lado oriental, o que daria cerca de 800 mil habitantes em cerca de 125 km^2, 2/3 Judeus e 1/3 Árabes. O centro antigo, a cidade murada de 1 km^2, está no coração das três religiões monoteístas que o ser humano infelizmente inventou: para os Cristãos a igreja do Santo Sepulcro foi erigida no local das supostas crucificação e tumba do suposto Jesus; para os Muçulmanos, o Domo da Rocha no Monte do Templo guarda em seu centro o local por onde Maomé subiu aos céus; para os Judeus, o Muro das Lamentações é o que restou de seu segundo Templo destruído pelos Romanos e sobre o qual foram construídos o Domo da Rocha e a mesquita al-Aqsa (nesse Templo ficariam a Arca com os dez mandamentos de Moisés e o local onde Abraão preparou seu filho Isac para o sacrifício-prova de obediência a deus).

A cidade antiga, que até 1860 era tudo o que existia na área, consiste de quatro setores: Islâmico, Judeu, Armênio e Cristão. O Islâmico é o maior e mais populoso, com seus típicos bazares por ruelas estreitas, lar de 22 mil pessoas. O Cristão, também lar de alguns Gregos Ortodoxos, Franciscanos, Beneditinos e Luteranos, além de diversos monastérios e igrejas como a Luterana Cristo Redentor contém o Muristão, um local de muitas lojas e alguns restaurantes. O Armênio é o menor de todos, onde vivem cerca de 2 mil pessoas e fica o monastério de São Jaime. E o Judeu, que teve muitos sítios como a sinagoga Hurva destruídos durante o domínio Jordaniano (1948-1967), e hoje com vastos recursos está todo reconstruído (Hurva estava sendo reinaugurada quando eu estive por lá), e que possui cerca de 3 mil moradores e vários sítios arqueológicos inclusive subterrâneos. Vale lembrar que ainda em 1967, logo após a guerra dos seis dias, Israel destruiu e expulsou os moradores do que era o quinto e menor setor, o Marroquino, que existiu por oito séculos desde os tempos de Saladin, para dar lugar ao que hoje é a praça aberta em frente ao Muro das Lamentações.

Além desses principais locais já mencionados, há uma infinidade de outros a se visitar na cidade murada, aonde se entra por algum dos sete Portões ainda em funcionamento. Por exemplo: a torre e citadela de Davi, perto do Portão Jaffa, construídos no século II AC sobre ruínas que remontavam ao tempo de Davi; a Via Dolorosa, o caminho de Jesus até a Crucificação, que começa pelo Portão do Leão e passa pelas nove estações da cruz, com as outras cinco estações ficando dentro da igreja do Santo Sepulcro (igrejas e outros monumentos foram erigidos demarcando cada estação); e deixar-se perder por entre as ruelas dos setores, e pelos bazares do lado Islâmico, parando cada dia para comer e beber em um setor! Achei curioso que cada prédio histórico seja tutelado por uma dada instituição religiosa.

Fora da cidade antiga, mas ainda no complexo histórico que avança pelo lado oriental, são obrigatórios: o Monte Zion, com a abadia Hagia Maria Zion, o local onde supostamente foi realizada a última ceia e o local da suposta tumba do rei Davi; o Jardim da Tumba, local que para muitos é o verdadeiro suposto local da crucificação do suposto Jesus, bem próximo à sua suposta tumba na pedra; a Cidade de Davi, o local mais antigo de todos, hoje um enorme sítio arqueológico que remonta aos tempos de Davi e onde supostamente seu palácio ficaria; diversas tumbas cavadas na rocha no vale entre o Monte do Templo e o Monte das Oliveiras. E acima de tudo, subir pelo Monte das Oliveiras. Pela sua base ficam: o Gethsemane, o jardim onde supostamente Jesus passou sua última noite e ocorreu a traição do pobre Judas, bem próximo à suposta tumba de Maria; as recentes igrejas católica Todas As Nações e ortodoxa Russa Maria Madalena, além de outras igrejas. Subindo-o há toda uma necrópole já quase ao topo e uma visão panorâmica simplesmente divina. Pelo topo fica a Capela da Ascensão, construída sobre o suposto local em que Jesus subiu aos céus e que curiosamente hoje fica no complexo de uma mesquita.

Já na cidade moderna, do rico e estruturado lado ocidental, há de se passar pelas imediações da rua Jaffa, que aliás conduz à rodoviária Israelense, pela praça Safra e o governo municipal, pela Ópera, o Teatro, enquanto o Museu já fica mais longe. Em outra parte ficam o Parlamento e a Suprema Corte, assim como as residências do presidente e do primeiro-ministro. Vários são os malls, é tudo mais limpo e organizado, e por vezes você nem se lembra que está em Jerusalém. As coisas são o oposto pelo lado oriental, mas deixemos isso para os posts da Palestina.

AVISO: Jerusalém é a décima segunda cidade cujas fotos se perderam no assalto que sofri em exatamente em Jerusalém Oriental (detalhes em um post posterior); perdi um mês de fotos sem backup. Para não ficar só na descrição, seguem abaixo alguns links da net, fotos de terceiros.

http://www.israelinphotos.com/jerusalem/index.html
http://www.israelinphotos.com/gallery1.htm
http://www.jerusalemshots.com/cats-en.html



Sempre perguntam "mas e não há uma sensação diferente por se estar em Jerusalém ?". Absolutamente não. Ao menos para mim, embora saiba da enormidade de gente que realmente vai até lá para se sentir 'mais próximo' de algo; eu sinceramente não entendo essa gente. Mas era hora de conhecer o paraíso, digo, uma cidade mais adentro de Israel, para depois fazer o mesmo na Palestina ocupada. Minha próxima parada era Tel Aviv; de lá retornaria para vivenciar o lado oriental de Jerusalém e me mandar para Ramallah; porém.... oi ai, essas ironias do destino. Mas primeiro Tel Aviv.

This entry was posted on sábado, agosto 14, 2010 at 10:38 PM and is filed under , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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