Petra, inacreditável esplendor Nabateu  

Posted by carlos in

Chegar a Petra foi uma epopéia. Depois de pagar caro para sair de Israel ainda não acreditando em toda a ironia que passei em Jerusalém, e chegar numa lotação até Amã (felizmente não é preciso pagar de novo para reentrar na Jordânia), fui reto à sua rodoviária naquele fim de tarde pois achava que havia um ônibus ainda. Ledo engano, e perdido por lá tive que pagar um taxista para me levar ao centro da cidade onde acabei passando a noite no mesmo hotel de minha estada anterior na cidade. Na manhã seguinte, peguei o primeiro ônibus e quando estávamos há cerca de 20 km de Petra, uma espessa neblina tomava conta de tudo e a estrada fora fechada. O motorista simplesmente deu meia volta e retornou a Amã, dizendo que não podia ficar incertamente esperando abrir a estrada.

Felizmente, conheci no ônibus uma garota Jordaniana, Rhuda, que trabalhava no turismo em Petra e tinha que chegar na cidade de toda forma naquele mesmo dia. No retorno a Amã, ela sabia que havia outra rodovia que ligava Amã a uma cidade próxima de Petra, e outra empresa que fazia aquele percurso; eu grudei nela pois nem em pesadelo eu perderia outro dia em Amã, e assim nos mandamos pra estrada de novo. Conseguimos chegar naquela cidade já de noite, e rachamos então um táxi até Petra; conforme chegávamos perto, a neblina não deixava enxergar quase nada pela pista no meio do quase-deserto; mas o taxista foi firme e, de pouco em pouco, finalmente chegamos em Petra. Eu só não sei como aquele cara enfrentou a pista para ir embora.
De brinde, ganhei a amizade de Rhuda para tomar um suco no dia seguinte. Aliás, achar bebida alcólica por esses lados não é tarefa fácil! Eu não imaginava que fosse tão rígido assim, excetuando-se cidades mais liberais como Beirute. O sítio de Petra fica ao lado da pequena Wadi Musa, onde fiquei nesse hostel; dois quilômetros ao sul há um povoado Beduíno, os quais já não são mais tão nômades assim mas mantêm a mesma estrutura tribal de seus antepassados.

Petra! A capital dos Nabateus, cidade toda esculpida na rocha entre as montanhas de Wadi Araba, o grande vale que se estende do mar Morto ao mar Vermelho. Foi a habilidade de coletar, canalizar e distribuir água que garantiu a sobrevivência dessa cidade de pedra; diques, cisternas e dutos a abasteciam, numa improvável engenhosidade hidráulica. A erosão pelos séculos apagou parte das construções rochosas e praticamente não restam inscrições originais em parte alguma, dando ainda maior ar de mistério à cidade. Vestígios indicam que a cidade começou a se formar ao redor do século VI AC, época em que os Edomitas habitavam a região, mas a maior parte dos monumentos em Petra data dos séculos I AC a I DC, de estilos Grego e Romano. Há mais recentes, refletindo posteriores ocupações Bizantinas e Otomanas. Petra permaneceu uma 'cidade secreta' ao mundo ocidental até 1812, quando o explorador Suiço Burckhardt a redescobriu; mais recentemente ela foi pano de fundo de vários filmes, o mais conhecido claro sendo Indiana Jones.

Seus primórdios ainda não são claramente conhecidos. Os Nabateus eram um povo Árabe, que falavam Aramaico e cultuavam divindades pré-Islâmicas como o deus Dushara, que é representado em algumas das ruínas mais antigas de Petra. Entre os séculos VI-II AC estudos mostram que suas primeiras tumbas se dividem em dois tipos principais: um Grego-Romano, outro Egípcio-Nabateu. Ao fim do século II AC dois dos reinos sucessores do império de Alexandre, os Ptolomaicos e os Selêucidas, estavam enfraquecidos e os Nabateus começaram a prosperar, mesmo após serem anexados por Roma ao redor de 106 AC. Poucos são os sinais de novas construções pelos dois séculos seguintes, apontando para alguma catástrofe que danificou sua engenhosidade hidráulica ou mesmo para uma invasão estrangeira. A cidade entrou em declínio quando Roma passou a usar novas rotas de comércio que não mais a percorriam até cair em completo esquecimento, passando a ser alvo fácil de saqueadores de tumbas e monumentos. O Cristianismo ainda aportou em Petra no século IV, o Islamismo no VII, e alguns monumentos avulsos dessa época se encontram pelo sítio.

Após a entrada, um extenso (1200 metros) e estreito gorge (Siq, apenas 3 metros em alguns trechos) conduz ao Al Khazneh, ou Tesouro como é chamado, o mais conhecido monumento Nabateu construído entre os séculos I AC a II DC em estilo mais Grego. Seguindo adiante toda a misteriora cidade se abre. Chega-se a área do anfiteatro Romano e a avenida principal, cercada de tumbas inacreditáveis esculpidas na rocha das montanhas ao redor, principalmente no lado direito; seguem-se o Palácio de Petra, o Nimphaeum, o Arco, o Templo Qasr Al-Bint e o Templo do Leão Alado, e o museu no fim da avenida. Pelo lado esquerdo, escala-se a montanha até chegarmos ao Alto Palácio de Sacrifício, visão soberba, descendo depois até o Triclinium do outro lado. De volta ao museu começamos outra escalada até o topo de nova montanha, desta vez para vislumbrar o último e maior monumento de Petra, o Monastério Al-Deir. Não vou nem tentar descrever a visão que se tem de lá; alcança boa parte de Wadi Rum, o Vale da Lua aonde minha idéia era passar uma noite entre suas montanhas, numa tenda Beduína, algo que aliás tem se tornado comum a alguns turistas. Mas à noite o frio naquela época estava insuportável, e acabei não me dando essa experiência.



Gastei dois dias em Petra. No primeiro (album acima), da entrada até o Tesouro e do anfiteatro subindo a montanha pelo lado esquerdo até o Alto Palácio de Sacrifício; há umas fotos da pequena Wadi Musa. No segundo (album abaixo), a partir do anfiteatro indo às Tumbas do lado direito, voltando à avenida principal até subir a montanha ao Monastério; há umas fotos na pista do vale de Wadi Rum.



Achei legal que o sítio de Petra possui vários Beduínos a tirar algum sustento do local. Subindo as montanhas, hora ou outra você depara com algum, vendendo alguma coisa e sempre oferendo um chá; sem contar aqueles que levam turistas, à cavalo, montanha àcima. É um povo diferente, aquele ar de mistério de quem conhece os segredos do deserto. Para além do Monastério, já quase caindo nos precipícios de Petra, fiquei um tempão curtindo um chazinho numa cabana tendo toda aquela visão impagável diante de mim. Não quis nenhuma carona, estava a fim de andar em paz por aquele santuário. E também não tirei foto em camelo!

Mais que satisfeito por ter conhecido essa maravilha do planeta, era hora de partir para o último país, Egito. Estava digerindo a ironia de Jerusalém, e mal sabia que Israel iria me dar outra dor de cabeça na fronteira.

This entry was posted on segunda-feira, agosto 16, 2010 at 2:59 PM and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

0 comments

Postar um comentário

Postar um comentário