Macedônia, de Alexandre o Grande a FYROM  

Posted by carlos in

Com a lotação fomos de Tirana até a fronteira, aonde então dividimos um taxi para adentrar a Macedônia, até chegar em Ohrid, cidade a beira do lago Ohrid, localizado na fronteira com Albânia. Novamente, a viagem já foi de encher os olhos, subindo e descendo as montanhas da serra ao cruzar a fronteira.

Mas um pouco de história primeiro. A atual Macedônia é na verdade menos que a metade do Reino Macedônio de outrora, que em seu apogeu pariu o lendário Alexandre O Grande, que conquistou Pérsia, Ásia Menor, e tido como o maior difusor do Helenismo; aquele território também englobava partes atuais da Bulgária, Albânia e Kosovo, e do norte da Grécia. O nome ´oficial` do país é Antiga República Iugoslava da Macedônia (FYROM no acrônimo inglês), condição imposta pela Grécia para reconhecer a independência do país em 1992 sem que houvesse confusão com sua própria região Macedônia, no norte. Há todavia muita celeuma entre os dois lados acerca de quem é o ´herdeiro` natural dos antigos Macedônios.

Na tentativa de se tentar entender o que difere os povos dos dois lados da fronteira norte-sul, é preciso adicionar um novo ítem à história comum às demais nações Balcânicas (veja posts anteriores sobre Bósnia e Sérvia): presença de tribos Ilírias e Dácias pré-históricas, conquista Romana, chegada dos Eslavos, Impérios Búlgaro, Bizantino, Otomano, e Austro-Hungaro, e Iugoslávia, fatores que acabaram delineando as maiorias católicas, islâmicas e ortodoxas pela península Balcânica de hoje. No caso Macedônio, o novo ítem é a enorme importância do Reino homônimo de outrora, que exerceu vasta influência nos povoados vizinhos e na Grécia.

As fronteiras da antiga Macedônia mudaram inúmeras vezes desde o fim do Reino de outrora. Foi após a chegada dos Eslavos no século VI, muito ajudados pelos Búlgaros, e de suas lutas contra os Bizantinos, que dominavam a Gregos, que a presença de duas etnias dominantes passou a coexistir nessa região, com Eslavos mais ao norte e Gregos mais ao sul. Ao redor de 860, Cyril e Methodius, nascidos em Tessalonica no norte Grego e glorificados por todo Balcans como os cristianizadores do mundo Eslavo, criaram o alfabeto Cirílico, e o ano de 885 viu nascer na cidade de Ohrid (hoje no país Macedônia e à época no império Búlgaro) o principal centro eclesiástico ortodoxo Eslavo. No século seguinte, quando Bizâncio conquistou o leste Búlgaro, a atual FYROM se tornou o centro do império Búlgaro, que deslocou sua capital para Ohrid; a área Grega já estava sob Bizâncio. Com isso, tanto Gregos como Eslavos se tornaram Ortodoxos na Macedônia da época. Por essa maior convivência com Gregos e principalmente Búlgaros, o idioma do atual país Macedônia, apesar da origem Eslava, é o que mais difere dentre as seis ex-repúblicas Iugoslavas, tendo maiores similaridades com o Búlgaro.

Os Otomanos conquistaram a área em 1371 e por cinco séculos dominaram o sudeste europeu. Em terras da atual FYROM, suas maiores marcas se encontram na capital, Skopje; mas não somente lá. A Macedônia tem a quarta maior população percentual de muçulmanos na Europa, 33 %, atrás de Kosovo, Albânia, e Bósnia.

Com o ressurgimento de aspirações nacionalistas pelo século XIX, Sérvia, Bulgária e Grécia passaram a reclamar terras da antiga Macedônia além de terras entre si. Já no século XX, o esfacelamento Otomano, as guerras Balcânicas de 1912-1913 e as duas guerras mundiais redesenharam indefinidamente o mapa da península e da Macedônia, com inúmeros deslocamentos de populações; a área da atual FYROM foi anexada ao sul da Sérvia quando da formação Iugoslava, enquanto os Eslavos residentes na parte que ficou com o norte da Grécia acabaram sendo evacuados ou assimilados.

Com o fim do Nazismo e da segunda guerra, foi Tito quem começou a patrocinar a idéia de uma nação Macedônia aos habitantes da área, que queriam se ver sob menor influência de Belgrado e, em menor extensão, de Sofia na vizinha Bulgária; com isso, Tito também continuava seu projeto de descentralização de poder na Federação. Foi em 1946 que uma nova república Iugoslava passou a existir oficialmente, com Tito dando à Macedônia autonomia em relação à Sérvia que a havia adquirido pouco antes. Muitos alegam que outro interesse nessa manobra era poder reclamar, no futuro, toda a antiga Macedônia, incluindo o norte Grego, e assim expandir a Iugoslávia até o Mar Egeu e a Bulgária; nada disso aconteceu pois a Bulgária entrou na influência Soviética, enquanto os comunistas, suportados pelos Eslavos no norte Grego, perderam na Grécia, em sua guerra civil de 1946-1949.

A identidade étnica Macedônia continuou sendo alardeada até que, com o fim da Iugoslávia, o país proclamou sua independência em 1991, sendo prontamente reconhecida por Sérvia e Bulgária. Com os Gregos, o problema ainda é o nome; logo em 1992, enormes manifestações ocorreram em Tessalonica forçando o governo a não aceitar o nome do vizinho ao norte. Aos poucos, porém, o nome Macedônia vem sido empregado mundo afora em vez de FYROM. Problemas étnicos nesse novo país só ocorreram entre 2001-2002, quando militantes étnicos Albaneses, muitos fugidos de Kosovo, entraram em conflito com a ordem local clamando por um maior reconhecimento de sua minoria e por direitos civis iguais; dizem que conseguiram, ao menos os conflitos terminaram. Dos cerca de 2 milhões de habitantes, com 25 % vivendo na capital, 21 % são Albaneses.

Pois voltemos ao turismo no próximo post.

This entry was posted on quinta-feira, julho 22, 2010 at 10:11 AM and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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