Com o trem de Bitola chegamos à capital Skopje, outra cidade que me deixaria boquiaberto com sua história e bela natureza. Localizada no vale do rio Vardar e cercada de colinas, possui cerca de 1/3 da população do país. Ficamos neste albergue bem legal.
Sua história tem muita semelhança com a de Ohrid e do resto da Macedônia (veja posts anteriores), tendo sido habitada desde antes da conquista do Reino Macedônio por Roma, e mais tarde sendo capital do Primeiro Império Búlgaro antes de sua derrota aos Bizantinos, até cair em 1392 em domínio Otomano; porém, a influência Oriental é extremamente mais visível em Skopje, com a arquitetura edificada durante os cinco séculos de domínio Otomano. É a capital do país desde que ele foi criado dentro da ex-Iugoslávia. Em 1963 um terremoto devastou 75% da cidade, matando quase 2000 pessoas; o relógio da antiga estação de trem, hoje um museu e memorial, ficou congelado no horário da tragédia, 5:17 am.
A ponte Stone Bridge, sobre o rio Vardar, é o emblema da cidade, conectando seu passado ao presente, construída inicialmente pelo Sultão Murad no século XV. Ela liga as duas partes bem distintas da cidade. O lado sul, mais afetado pelo terremoto, foi quase totalmente reconstruído. Nele se encontra a praça Macedônia, novo coração da cidade e local de seus importantes eventos, largas avenidas e principais prédios administrativos, além de bares mais ocidentalizados; também o albergue e a estação antiga, assim como a Universidade Cyril e Methodius e o memorial da católica Madre Teresa, que nasceu em Skopje, se encontram desse lado.
Cruzando-se a ponte para o lado norte, menos afetado pelo terremoto, a paisagem urbana muda completamente, e a arquitetura Islâmica passa a dominar quase tudo. O ponto culminante é o imponente Forte Kale, no local mais alto da cidade, de onde toda ela é visível; inicialmente construído no século VI pelo imperador Bizantino Justiniano I, nascido nos arredores de Skopje, seus muros foram construídos mais tarde pelos Otomanos; parcialmente afetado pelo terremoto, recentes escavações no Forte desenterraram artefatos de 4000 anos de idade e descobriram casas abaixo do solo.
Do Forte, passa-se ao Velho Bazar, o centro antigo da era Islâmica, um dos maiores dos Balcans; além de concentrar os inúmeros hammans, caravanserais e mesquitas, e as ruelas e bazares antigos em que tudo é comercializado, o centro antigo também é a morada da minoria Albanesa da cidade, com cerca da metade da população desse bairro sendo de Albaneses étnicos. No caminho entre o Forte e o Velho Bazar, fica a mesquita mais imponente de todas, Mustapha Pasha (1492); além desta, outras se destacam e merecem visita, como Isak Bey (1439), Yahya Pasha (1504), e a mesquita do Sultão Murad (1463), próxima da qual se encontra a Torre do Relógio (século XVI). Quando passei por lá, topei com o Imam local que me mostrou a mesquita e me levou ao topo da Torre, que fornece uma visão bem legal dos arredores. Além das mesquitas, há os hammans Cifte e Daute Pasa, que hoje abrigam as galerias de arte Contemporânea e Nacional, respectivamente; já o maior caravanserai, Kursumli Han (século XVI), hoje abriga parte do enorme Museu Nacional. Imperdível também é Sveti Spas, uma igreja cristã erigida em pleno século XVII, bem próxima à Mustapha Pasha; metade dela foi construída abaixo do solo pois as mesquitas deveriam sempre dominar o horizonte Otomano; a tumba de um herói guerrilheiro do século XIX, Delchev, lá se encontra.
Todo o acima exposto, excetuando-se o Forte, encontra-se no album abaixo, desde o relógio congelado, passando pelo centro novo restaurado, até chegar no centro antigo, com a visão panorâmica do topo da Torre, e meu novo amigo Imam!
Saindo um pouco da cidade, queríamos subir ao topo do monte Vodno, onde tiveram a infeliz idéia de erguer uma enorme cruz, dita ser a maior do mundo, em celebração aos 2000 anos do torpe cristianismo. É que fiquei sabendo que, descendo do topo para o outro lado, iríamos chegar (depois de alguns quilômetros) a um riozinho bucólico, cachoeira, uns monastérios no caminho, e seria possível arrumar uma canoa para chegar numa caverna, rio abaixo. Estava certo que seria um dia memorável!
Porém, quando chegamos ao topo (desta vez ao menos nenhuma patrulha nos impediu), acabamos encontrando um grupo de Macedônios curtindo seu piquenique, regado à litros de rakija; gente boníssima, principalmente um maluco ´senhor` (fácil de discernir nas fotos), cantor de ópera. Convidaram-nos para ficar, ganhei uma camisa de um dos caras, e passamos o resto do dia ali, até que nos chamaram para continuar a farra pouco mais abaixo; fomos então a algo parecido com uma taverna, ainda na montanha, e lá ficamos até o fim da noite, bebendo litros de rakija caseira e curtindo a cantoria empolgada deles; tanto que uns garotos que estavam por lá acabaram se rendendo ao ânimo de seus conterrâneos mais idosos e também mostraram seu brado, litros depois.
Não teve rio ou cachoeira ou caverna, mas acabou sendo o dia mais gostoso de toda minha viagem. Tenho uns filmes também, para ter mais viva a memória desse dia, que sempre é uma das primeiras que me vem à mente quando penso nessa maluca viagem que inventei. O album a seguir começa com o Forte Kale e a visão panorâmica de lá; depois foca na subida do Monte Vodno e a farra com esses Macedônios fanfarrões.
Ficaram jóias as últimas fotos desse álbum; era noite, estávamos indo curtir um bar do lado antigo e a neblina-poluição estava super densa; seu efeito ficou surreal ao cruzarmos a Stone Bridge. Parecia proposital, um ar meio de entrada de disco-voador, que poderia resumir bem o fato de que cruzar aquela ponte é quase como cruzar uma fronteira a um mundo mais nebuloso aos nossos olhos. É mesmo difícil imaginar como é viver em uma cidade como essa, dividida por sua história, e entender como funciona o mecanismo de convívio entre essas etnias tão distintas.
E chegava infelizmente a hora de dizer adeus a esse país que me deu os momentos mais humanos e calorosos de toda a viagem. Enid tomaria outra direção; eu e Carly ainda seguiríamos juntos até Sofia, nossa próxima parada!
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on quinta-feira, julho 22, 2010
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28_Macedônia_2_Skopje
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Este blog é um rascunho de viagem, mochila-albergue-trem, de 7 meses pelo Velho Mundo cruzando 42 países, iniciada em Lisboa em Julho/2009 e terminada em Cairo em Fevereiro/2010. Cada cidade visitada possui ao menos um post com um album de fotos e algumas histórias, além de um pouco de História de vez em quando.
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