Turquia, do império Otomano à república secular  

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(...continuação)

Um desses Emirados, sob regência da dinastia Osman, logo conseguiu se impor e declarou independência em 1299, aos poucos reunificando boa parte da Anatólia contra os Mongóis; esse ano marca o início oficial do império Otomano, que tomou seu nome da dinastia Osman (Uthman). Filho de Ertrugul, que era o líder de um clã Oghuz, os Kayi, em 1299 Osman I começou a expansão das terras do então Emirado, que em 1452 já chegara até os limites Bizantinos. Finalmente, em 1453 o Sultão Mehmed II, depois de um cerco de 53 dias, conquistou Constantinopla e tornou-a capital do império Otomano, marcando o fim do império Bizantino e o início da expansão Islâmica por uma Europa até então completamente Cristã; vale notar que Mehmed II continuou permitindo o culto cristão (Ortodoxo) além de aceitar os Judeus que fugiam da inquisição Espanhola.

A época de ouro Otomana se deu com o Sultão Suleiman I O Magnífico, que governou de 1520 a 1566, período em que Balcans, Oriente Médio e Norte da Africa foram conquistados, e que promoveu várias reformas no funcionamento da sociedade Otomana. Apesar da origem Turca, a cultura Otomana acabou se misturando às culturas dominadas mas manteve sempre a dominância de elementos Turcos e Árabes, além de Persas e Bizantinos. O pico de sua expansão se deu em 1683, ano do cerco a Viena e do início da reação dos Habsburgos, enquanto os séculos XVIII e XIX viram um gradual declínio das possessões em domínio de seus gran-vizirs. O império Otomano entrou no século XX já desmoronando por causa do renascimento do nacionalismo em suas terras Européias e Árabes, e se viu quase forçado a entrar na primeira guerra ao lado dos Austro-Húngaros (e Alemães); com a clamorosa derrota simultânea de Habsburgos e Otomanos, as potências Aliadas tentaram partilhar o que restava do império Otomano, pelo tratado de Sèvres de 1920.

Foi como resposta a tal partilha que surge a figura do mito nacional Mustafa Kemal Pasha, logo renomeado Ataturk (Pai dos Turcos), mobilizando o nacionalismo Turco e reorganizando parte do extinto exército Otomano na Anatolia. Sendo bem sucedido na luta de independência e expulsando os exércitos Aliados, Ataturk fundou a República da Turquia em 1922 e tornou-se seu primeiro presidente; mudou o nome de Constantinopla para Istambul e mudou a capital para Ankara, no centro do país, além de extinguir os vestígios do Sultanato Otomano ao exilar o último Sultão. O tratado de Lausanne de 1923 reconheceu a Turquia em suas atuais fronteiras.

Ataturk implantou radicais reformas no país: tornou a Turquia um país secular; uniu o sistema educacional e fez com que o Turco passasse a ser ensinado no alfabeto Latino em vez do Persa-Árabe, que era acessível apenas à elite, na tentativa de se alfabetizar a maioria da população; baniu o uso do véu feminino nas universidades e em locais públicos e concedeu às mulheres direitos civis iguais aos homens, quando elas passaram a poder votar e concorrer a cargos políticos bem antes que muitos países ocidentais fizessem o mesmo; aboliu os trajes típicos que expressavam a hierarquia religiosa e social dos cidadãos. Para Ataturk, o fato de a Europa Cristã ter tido seu arcaico funcionamento (leis, escolas, comércio) drasticamente alterado por eventos tais como Renascimento e Revolução Francesa se tornou o ponto de diferenciação com o mundo Islâmico, que preservara até então suas próprias estruturas arcaicas onde a religião ainda determinava o funcionamento da sociedade; para ele, essa foi a causa real do fim Otomano.

Não seria simples implementar reformas tão radicais no seio de uma população com fortes laços às suas origens e costumes tribais e religiosos. O fato de tais reformas ocorrerem muito rapidamente e sem consultas maiores aos líderes das antigas estruturas causou e ainda causa certa tensão entre uma sociedade mais modernizada (visível nos grandes centros urbanos) e outra mais apegada aos antigos costumes (no interior e em povoados mais afastados), que não as absorveram por completo. Por exemplo, o uso do véu feminino em locais públicos e universidades tem sido motivo constante de muito debate.

Cerca de 85% dos atuais 70 milhões de habitantes do país são Turcos étnicos, 97% Islâmicos (Sunitas na maioria), com 4.5 milhões na capital Ankara, mas a grande maioria, cerca de 12 milhões, vivendo no coração cultural e econômico do país, na área metropolitana de Istambul. Cerca de 12 milhões de Turcos vivem fora do país, 3 milhões só na Alemanha. Ainda existem três fontes de tensões internacionais: o conflito com a Grécia pelo Chipre; as rebeliões da minoria Curda (12 milhões) por autonomia no sudeste Turco; e o reconhecimento Turco do genocídio Armênio ao fim da primeira guerra mundial, quando 1.5 milhão de Armênios, que chegaram a compor 25% da população Otomana, foram massacrados ou deportados (a vizinha e ortodoxa Armênia aliara-se à Rússia contra os Otomanos).

Depois de um pouco de história, vamos conhecer Istambul!

This entry was posted on quinta-feira, julho 29, 2010 at 9:07 PM and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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