Não há do que reclamar dos ônibus na Turquia; em geral, há um 'serviço de bordo' e um cara passa oferecendo água, sachês de leite ou chá, um biscoito. Pois saindo da surreal Goreme tive que ir até Kayseri, onde pegaria o ônibus para a fronteira Síria tentar a sorte com os generais de plantão, embora tivesse sido avisado para não fazer isso. Mas por terra não há como cruzar o Oriente Médio sem passar pela Síria, a não ser que passasse pelo Iraque...
Lá fui eu. Na fronteira, o motorista do ônibus aguarda por um certo tempo de praxe antes de seguir viagem. Eu sabia que o meu visto, se é que o conseguiria, iria demorar mais do que o dos demais 'normais' passageiros; por isso, até tirei a mochila do bagageiro, e nem iria tentar argumentar para ser ressarcido pelo restante do bilhete caso eu ficasse para trás, como fiquei. Ser Brasileiro por essas fronteiras é grande vantagem mesmo; depois de um bom tempo de espera, numa sala com os típicos rapazes de bigode vestindo seu verde-oliva, me liberaram para pagar e pegar o visto (na Síria, paga-se também uma taxa para sair do país). Voltei prá pista e me meti no próximo ônibus, cujo motorista gente boa nem me cobrou nada.
Entrei! Segui meu rumo para a primeira parada na Síria, a histórica Aleppo, segunda maior cidade do país e uma das mais antigas continuamente habitadas do planeta, em que fiquei neste hotel simples e barato. Em seu auge no século XIX ela chegou a ser a terceira maior cidade do Império Otomano, depois de Constantinopla e Cairo, em grande parte por estar na Rota da Seda que diga-se foi uma das maiores responsáveis pelo desenvolvimento de inúmeras cidades e reinos pelo Velho Mundo, e de onde seus inúmeros bazares e caravanserais (locais de hospedagem dos mercadores) proliferaram; Aleppo comecou seu declínio em 1869 com a abertura do canal de Suez e dessa nova rota de comércio. O isolamento da Síria nas últimas décadas acentuou esse declínio, mas recentemente a cidade tem passado por um reavivamento que alías engloba a preservação e restauração de ceu centro medieval histórico. Aleppo tem o maior souq (bazar coberto) do mundo; e eu achava que o de Istambul já era infinito! Andar por esses bazares não dá para ser descrito. Esses caras inventaram o comércio.
Antes dos Otomanos, a cidade passou por diversas mãos; Amoritas, Hititas, Assírios, Persas, foi conquistada por Alexandre O Grande em 333 AC, por Roma em 64 AC posteriormente fazendo parte do território Bizantino, até a conquista pelos Árabes em 637. O domínio Árabe sofreu invasões dos Bizantinos, Turcos Seljuk e Mongóis, mas ele só veio a cair em 1536 quando os Otomanos a conquistaram; com o fim do império Otomano na primeia guerra mundial, Aleppo e toda Síria entrou junto com o atual Líbano no mandato Francês em 1920, o qual durou até a independência do país em 1946 após a segunda guerra mundial. Desde 1970 os al-Assad do partido Baath, pai e agora o filho, têm presidido esse país que de fato conserva um aspecto bem fechado.
Minha primeira parada foi a Citadela de Aleppo, um complexo no topo da colina que domina o centro antigo ao seu redor, com a cidade se estendendo dali. Sem dúvida um dos maiores castelos/fortes do mundo, a maior parte de sua estrutura data do século XII, mas ruínas dos impérios anteriores ainda persistem em seu interior. A panorâmica a partir da Citadela é fenomenal, 360 graus; o ingresso para nativos é bem mais barato do que para estrangeiros, e por isso há famílias inteiras por lá oriundas do resto do país. Parecia ser bem raro haver um forasteiro no local, de máquina em punho, tantas foram as pessoas que vinham puxar 'conversa' (como é ruim não se falar o mesmo idioma!), inclusive um grupo de jovens do exército que pediram até para tirar foto. Reflexos de um povo muito amigável vivendo num país muito fechado? Essa ao menos foi a impressão que ficou por diversos locais que visitei no país.
Para além da Citadela, outras visitas na parte antiga são devidas: o souq que conduz à colina, a Mesquita Ummayad, a maior da cidade iniciada no ano 715 no sítio da antiga Ágora Grega e reconstruída no século XIII após a invasão Mongol, o complexo da Mesquita Khusruwiyah, terminada em 1547 pelo arquiteto Sinan, o mesmo que planejou as principais mesquitas Otomanas em Constantinopla. Na parte mais nova da cidade destacam-se: a praça central e o bairro Saadallah Al-Jabiri, com a torre-referência Bab Al Faraj; nas suas imediações ficam a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, e o hotel em que fiquei. Fui também conhecer o antigo bairro cristão: a catedral Armênia, a igreja de São Elias, e suas típicas ruelas.
AVISO: Aleppo é a oitava cidade cujas fotos se perderam no assalto que sofri em Jerusalém (detalhes no post daquela cidade, posterior); perdi um mês de fotos sem backup. Para não
ficar só na descrição, seguem abaixo alguns links da net, fotos de terceiros.
http://www.trekearth.com/search.php?phrase=aleppo&type=&x=28&y=9
http://fiveprime.org/hivemind/Tags/aleppo
http://www.galenfrysinger.com/aleppo_citadel.htm
http://www.galenfrysinger.com/aleppo.htm
http://www.tripadvisor.co.uk/LocationPhotos-g295416-Aleppo.html
Uma cena triste e emblemática quando caminhava pelo souq; lá estava uma criança vendendo algo no meio do caminho, provavelmente ela não era permitida vender ali dentre as lojas do souq, quando surgem uns quatro jovens fardados e começam a agredí-la e arrastá-la embora; ela foi arrastada aos berros e os poucos que pararam ficaram apenas a assistir a agressão, não sei se por receio ou por normalidade.
Depois de Aleppo, outro ônibus-lotação e a próxima parada na capital Damasco.
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on quarta-feira, agosto 11, 2010
at 4:04 PM
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37_Síria_1_Aleppo
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Identidade
Este blog é um rascunho de viagem, mochila-albergue-trem, de 7 meses pelo Velho Mundo cruzando 42 países, iniciada em Lisboa em Julho/2009 e terminada em Cairo em Fevereiro/2010. Cada cidade visitada possui ao menos um post com um album de fotos e algumas histórias, além de um pouco de História de vez em quando.
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