Damasco, antiga capital do mundo Árabe  

Posted by carlos in

Descendo de Aleppo a Damasco, capital e maior cidade do país e tida como a cidade mais antiga do mundo continuamente habitada, perdi a chance de conhecer Palmyra mais ao leste do país; suas ruínas devem ser mesmo de tirar o fôlego de qualquer um, mas agora eu tinha uma data certa para pegar o vôo de retorno em Cairo e preferi não arriscar. Em Damasco eu sabia deste ultra-luxuoso hotel, no centro da cidade, que possuía um ou dois quartos no subsolo para os mais pobretões (creio que era para os empregados); foi mesmo jóia, paguei preço de albergue e curti as dependências do nobre aglomerado de cimento.

Habitada desde séculos antes da era Cristã por diversas culturas como Hititas, Persas, Assírios, Egípicios, e Babilônios, depois tomada por Alexandre O Grande em 323 AC e conquistada por Roma (mais tarde Bizâncio) no ano 64, o apogeu de Damasco se deu após a derrota dos Bizantinos e a conquista Árabe no século VII. Isso porque o Califado Umayyad (661-750) escolheu Damasco como sua capital; esse foi o mesmo Califado que construiu o Domo da Rocha em Jerusalém e a Mesquita de Córdoba na Espanha, época em que o mundo Árabe chegou a constituir o maior império do planeta. Os Umayyad foram o segundo Califado Árabe, sucedendo os Rashidun (632-661) que tinham sua capital em Medina, e que por sua vez surgiram após a conquista de Meca e a morte de Maomé no ano 632.

Os Umayyad foram suplantados pelo Califado Abbasid (750-1258), outro clã que se considerava o verdadeiro herdeiro do profeta Maomé e que se tornou o mais longo dos Califados deslocando a capital para Bagdá, iniciando assim o gradual declínio de Damasco. A importância da cidade continuou diminuindo com as dinastias seguintes e ainda mais após a conquista dos Otomanos, que vieram a se impor por todo o mundo Árabe, centralizados em Constantinopla. Com o fim do império Otomano na primeira guerra mundial e o nascimento da secular Turquia, França e Inglaterra costuraram o acordo Sykes-Picot que recortou as antigas posses Otomanas no Oriente Médio; o norte (atuais Síria, Líbano) para a França, o sul (atuais Jordânia, Palestina-Israel) para a Inglaterra. Apenas no fim da segunda guerra mundial a Síria (assim como as outras demais colônias) conquistou sua independência, com Damasco permanecendo sua capital. Desde então a cidade tenta reconquistar seu destaque, embora o governo Sírio mantenha o país como um dos mais fechados da região.

O centro antigo de Damasco no passado era todo murado, com sete Portões dando acesso à cidade. Em seu interior destacam-se: as ruínas da citadela-castelo, terminada em 1078 pelos Turcos Seljuk e retocada várias vezes pelas dinastias seguintes que tomaram posse da cidade; o khan As'ad Pasha (1752) e outros caravanserias, e os típicos e diversos bazares como o Al-Buzuriyah; a mesquita Umayyad, do ano 715, uma das mais velhas e maiores mesquitas do mundo, super sagrada para os Muçulmanos, erigida sobre o sítio de uma basílica Cristã dedicada a João Batista logo após a conquista Árabe, e onde a cabeça daquele profeta supostamente se encontra num relicário que recebeu a primeira visita de um papa em 2001, João Paulo II; próximo à essa mesquita fica o mausoléu de Saladin (1196), que junto à sua estátua na entrada da citadela formam a homenagem a esse herói do mundo Islâmico que derrotou os Cruzados e reconquistou Jerusalém em fins do século XII, resistindo ainda às seguintes investidas da Terceira Cruzada de Ricardo Coração de Leão patrocinada pelos Ingleses.

Nos arredores do centro antigo ficam o bairro Cristão Bab Tuma, a capela de São Paulo, e a casa de Ananias, local onde o mesmo supostamente converteu Saul no apóstolo Paulo. Já no setor mais moderno na cidade, em parte recortado pelo rio Barada, obrigatórios são a praça Umayyad, o enorme e rico Museu Nacional, a mesquita Tekkiye, a Universidade de Damasco, a Biblioteca Nacional e a Ópera Nacional. Próximo ao hotel, além de uma zona de vários bares e comércio, fica a sede do governo. O partido Baath controla o país desde a derrota na Guerra dos Seis Dias contra Israel, que teve como presidente Hafez al-Assad de 1970 até sua morte em 2000 quando seu filho Bashar al-Assad assumiu a cadeira.

Causou-me espanto aliás perceber o quanto as figuras dos al-Assad são cultuadas e copiadas. Posters e outdoors, chaveiros e vidros dos carros carregam suas fotos em poses, me desculpem, por vezes ridículas (algumas com cara de galã, óculos escuros e tal); mais de uma vez me pediram para tirar foto onde a dada pessoa posava orgulhosa ao lado de um poster dos digníssimos. Sem contar que 9 em cada 10 jovens conservam aquele mesmo bigode de seus líderes, mas talvez seja apenas uma tradição masculina. Um forasteiro não tem a menor condição de julgar nada, eu apenas não acho um bom sinal todo esse culto, espontâneo ou forçado. Tomara que seja apenas a admiração de uma população que sinta os motivos para venerá-los assim.

AVISO: Damasco é a nona cidade cujas fotos se perderam no assalto que sofri em Jerusalém (detalhes no post daquela cidade, posterior); perdi um mês de fotos sem backup. Para não ficar só na descrição, seguem abaixo alguns links da net, fotos de terceiros.

http://www.trekearth.com/search.php?phrase=damascus&type=&x=0&y=0
http://www.galenfrysinger.com/damascus_syria.htm
http://www.tripadvisor.co.uk/LocationPhotos-g294011-Damascus.html



Já com a companhia de muita chuva que me seguiria por algum tempo, estava na hora de ir embora de Damasco e da ainda fechada Síria, cuja população é cerca de 80% Sunita. A próxima e esperada parada seria Beirute, Líbano!

This entry was posted on quarta-feira, agosto 11, 2010 at 6:06 PM and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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