Beirute, cidade que teima em reviver das cinzas, parte I  

Posted by carlos in

Quando o ônibus chegou na fronteira, após pagar a taxa de saída da Síria a primeira coisa seria conseguir o visto Libanês, mas esse deveria ser e foi menos complicado que o Sírio (dessa vez segui viagem no mesmo ônibus, e não se paga para sair do Líbano). Porém, meu dinheiro era insuficiente, não tinha como sacar, e acabei dando sorte pois havia outro forasteiro no ônibus que me emprestou grana na boa. Chegando em Beirute, fomos procurar um teto barato e rachamos um quarto nesse hotel; o forasteiro era americano (havia fugido da China por ter veiculado uma matéria anti-governo), e os caras do hotel não poupavam 'elogios' ao coitado por todo suporte que os EUA fornecem a Israel e pelo bombardeio Israelense que arrasou Beirute em 2006. No mesmo hotel, cujo dono ia em breve visitar um primo que morava no Brasil, residia um australiano fazendo parte de seu doutorado em Conflitos do Oriente Médio, e que conseguia ser mais anti-Israel do que eu. Obviamente nós três saíamos para nossas cervejas e narguiles, e o papo era bem interessante!

Beirute é mesmo uma cidade singular, passou e passa por tanta destruição e reconstrução, e ao mesmo tempo carrega (e talvez por isso) uma das juventudes mais vívidas do Velho Mundo. E o Líbano tem tanta proximidade conosco pelo enorme número de imigrantes forçados que aportaram no Brasil. A chegada em Beirute já valeria a visita. Passada a fronteira, a pista primeiro sobe uma serra enorme; do topo, já se avista o Mediterrâneo azul lá embaixo, as demais montanhas ao redor da cidade, algumas cobertas de neve, enquanto a capital Libanesa vai se abrindo aos poucos conforme descemos a serra.

O pequeno país possui inúmeros sítios históricos, como as cidades Fenícias de Biblos e Tyrus no litoral, e Baalbek no interior. O atual Líbano foi morada dos antigos Fenícios (1200-539 AC) que se espalharam pelo Mediterrâneo, fundando povoados por toda a costa, principalmente Cartago; criaram o alfabeto tido como o precursor dos alfabetos modernos, como o Grego e o Romano. Em 539 AC o império Persa sob Ciro conquistou os Fenícios, e dois séculos depois foi a vez do Macedônio Alexandre O Grande. O atual Líbano passou depois por mãos Assírias, Gregas, Romanas, Árabes, Turcas Seljuk e finalmente Otomanas em 1516. Com a derrota dos Otomanos na primeira guerra mundial e a posterior divisão do Oriente Médio entre França e Inglaterra o Líbano, assim como a Síria, entrou no mandato Francês. A influência Francesa é visível em Beirute onde parte da população, principalmente as classes mais altas, fala Francês. A independência Libanesa veio em 1941, embora as tropas Francesas só se retiraram após o fim da segunda guerra mundial em 1946.

O pacto nacional nesse pequeno e tão diverso país estabelece que o presidente seja um cristão maronita, o primeiro ministro um muçulmano sunita, e o parlamento tenha dois líderes, um muçulmano shiita e um grego ortodoxo. Quase inevitável, a guerra civil estourou em Beirute em 1975 e durou quinze anos; ela ainda foi agravada pela invasão Israelense no lado Muçulmano (oeste) da cidade, enquanto os Cristãos se concentravam no lado leste da chamada Linha Verde. Foram cerca de 200 mil mortos, 900 mil deslocados (20% da população), e uma enorme diáspora Libanesa se seguiu. Após longo período de reconstrução, um ano após a saída das tropas Sírias que ocuparam o país até 2005, os Libaneses celebravam seus melhores momentos; foi quando o Estado Terrorista Israelense invadiu o país por causa das atividades terroristas do grupo Hezbollah, destruindo novamente Beirute e ceifando a vida de milhares de civis inocentes.

(continua...)

This entry was posted on quarta-feira, agosto 11, 2010 at 8:52 PM and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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